Halloween não é, como eu imaginava, uma festa restrita ao
dia 31 de outubro. É um estado de espírito que atinge boa parte da população
americana, um clima divertido e colorido que se espalha pelas cidades por
praticamente todo o mês. Enfeites, fantasias, festas e paradas contagiam
crianças e adultos, e até os pets participam.
Como chegamos a Nova York, primeira
etapa da viagem, no dia 15 de outubro, pudemos conviver com várias destas
comemorações.
As pumpkins dominam
a decoração de Halloween, onipresentes nas portarias dos prédios, em vitrines
de lojas e entradas de restaurantes. Geralmente, são colocadas em bonitas
composições com vasos de flores e detalhes em palha, e marcam a adesão dos
moradores às festividades. O mercado de abóboras é promissor nesta época do
ano!
Esqueletos seguem em segundo lugar na tradição decorativa
dos americanos. Eles aparecem, principalmente, nos jardins das casas, em cenas
bem corriqueiras: tomam sol em espreguiçadeiras, dirigem tratores, aguardam os
visitantes no portão. Os personagens são de horror, mas o contexto inusitado
torna tudo muito engraçado!
Há também os cenários horripilantes e soturnos, compostos
por fantasmas, bruxas horrendas, caveiras e teias, além de machados e cordas. É
o que predomina em Salem, região famosa por, no século XVII, ter sido palco de
episódios de intolerância e histeria, com a perseguição e condenação de pessoas
acusadas de feitiçaria. O legado de “Cidade das Bruxas” tornou Salem a capital
nacional do Halloween. A programação é intensa e variada ao longo de todo o mês,
garantindo a presença dos turistas e o aquecimento da economia. Passamos uma
tarde entre museus, cemitérios e performances. Se não estivesse tão frio,
teríamos participado de um tour à luz de velas por lugares assombrados,
completando o clima apavorante. A frente fria que congelou Massachusetts nos
dias em que estivemos no estado nos presenteou com temperaturas abaixo de 10
graus durante o dia. De noite, podia chegar a zero grau... Então, nada de
passeios a pé por lugares abertos depois das seis da tarde!! Tive mais medo do
frio do que das bruxas...
As baixas temperaturas, no entanto, não assustam os
americanos que, com a proximidade do final de outubro, começam a encarnar os
mais variados personagens (feiticeiras e afins, super-heróis, figuras de contos
de fadas e da TV, e tudo mais que der na telha) e exibem, compenetrados e
brincalhões, fantasias e adereços. Capas, chapéus, dentes postiços, laços,
pipocam no metrô, em trajetos a pé, no supermercado e até no aeroporto. Este
ano, com a culminância do Halloween acontecendo numa segunda-feira (dia de
trabalho normal, sem feriado), os festejos começaram na sexta, se estenderam
pelo sábado e domingo, e fervilharam na noite do dia 31.
Calhou que, neste final de semana estendido, fomos de
Massachusetts a Illinois. Em Boston, circulando pelas redondezas do Faneuil
Hall Marketplace, demos com um desfile de cães de estimação fantasiados (alguns
de seus donos também...), e com grupos de jovens em trajes engraçados
dirigindo-se aos bares desde cedo. Em Chicago, um dos points dos festejos foi o
Navy Pier, com uma programação especial dedicada às crianças que circulavam com
seus baldinhos em forma de abóbora, arrecadando doces dos adultos no melhor
estilo trick or treat.
O ponto alto do Halloween, no entanto, foi ter acompanhado a
Parada em Northalsted, no bairro da comunidade LGBT em Chicago. Lá, tanto as
pessoas que desfilavam, quanto o público que assistia, exibiam as mais
criativas fantasias. Tratei de providenciar um adereço para me sentir
incluída. Não foi difícil! Logo encontrei a Beatnix, loja que, pela diversidade
de itens, parecia ter sido importada diretamente de uma esquina da rua da
Alfândega. Na minha avaliação de brasileira e carioca, porém, faltou um
pouquinho de animação na parada propriamente dita. Uma bateria de bloco de
Carnaval completaria bem a função. Mas, quando já nos dirigíamos para a estação
do metrô, na volta para o hotel, deu pra ver pelo buchicho nas portas das
inúmeras boates do bairro que a badalação estava apenas começando.
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