sexta-feira, 18 de novembro de 2016

Tempo de Halloween

Halloween não é, como eu imaginava, uma festa restrita ao dia 31 de outubro. É um estado de espírito que atinge boa parte da população americana, um clima divertido e colorido que se espalha pelas cidades por praticamente todo o mês. Enfeites, fantasias, festas e paradas contagiam crianças e adultos, e até os pets participam.  Como chegamos a Nova York, primeira etapa da viagem, no dia 15 de outubro, pudemos conviver com várias destas comemorações.

As pumpkins dominam a decoração de Halloween, onipresentes nas portarias dos prédios, em vitrines de lojas e entradas de restaurantes. Geralmente, são colocadas em bonitas composições com vasos de flores e detalhes em palha, e marcam a adesão dos moradores às festividades. O mercado de abóboras é promissor nesta época do ano!

Esqueletos seguem em segundo lugar na tradição decorativa dos americanos. Eles aparecem, principalmente, nos jardins das casas, em cenas bem corriqueiras: tomam sol em espreguiçadeiras, dirigem tratores, aguardam os visitantes no portão. Os personagens são de horror, mas o contexto inusitado torna tudo muito engraçado!

Há também os cenários horripilantes e soturnos, compostos por fantasmas, bruxas horrendas, caveiras e teias, além de machados e cordas. É o que predomina em Salem, região famosa por, no século XVII, ter sido palco de episódios de intolerância e histeria, com a perseguição e condenação de pessoas acusadas de feitiçaria. O legado de “Cidade das Bruxas” tornou Salem a capital nacional do Halloween. A programação é intensa e variada ao longo de todo o mês, garantindo a presença dos turistas e o aquecimento da economia. Passamos uma tarde entre museus, cemitérios e performances. Se não estivesse tão frio, teríamos participado de um tour à luz de velas por lugares assombrados, completando o clima apavorante. A frente fria que congelou Massachusetts nos dias em que estivemos no estado nos presenteou com temperaturas abaixo de 10 graus durante o dia. De noite, podia chegar a zero grau... Então, nada de passeios a pé por lugares abertos depois das seis da tarde!! Tive mais medo do frio do que das bruxas...

As baixas temperaturas, no entanto, não assustam os americanos que, com a proximidade do final de outubro, começam a encarnar os mais variados personagens (feiticeiras e afins, super-heróis, figuras de contos de fadas e da TV, e tudo mais que der na telha) e exibem, compenetrados e brincalhões, fantasias e adereços. Capas, chapéus, dentes postiços, laços, pipocam no metrô, em trajetos a pé, no supermercado e até no aeroporto. Este ano, com a culminância do Halloween acontecendo numa segunda-feira (dia de trabalho normal, sem feriado), os festejos começaram na sexta, se estenderam pelo sábado e domingo, e fervilharam na noite do dia 31.

Calhou que, neste final de semana estendido, fomos de Massachusetts a Illinois. Em Boston, circulando pelas redondezas do Faneuil Hall Marketplace, demos com um desfile de cães de estimação fantasiados (alguns de seus donos também...), e com grupos de jovens em trajes engraçados dirigindo-se aos bares desde cedo. Em Chicago, um dos points dos festejos foi o Navy Pier, com uma programação especial dedicada às crianças que circulavam com seus baldinhos em forma de abóbora, arrecadando doces dos adultos no melhor estilo trick or treat.

O ponto alto do Halloween, no entanto, foi ter acompanhado a Parada em Northalsted, no bairro da comunidade LGBT em Chicago. Lá, tanto as pessoas que desfilavam, quanto o público que assistia, exibiam as mais criativas fantasias. Tratei de providenciar um adereço para me sentir incluída. Não foi difícil! Logo encontrei a Beatnix, loja que, pela diversidade de itens, parecia ter sido importada diretamente de uma esquina da rua da Alfândega. Na minha avaliação de brasileira e carioca, porém, faltou um pouquinho de animação na parada propriamente dita. Uma bateria de bloco de Carnaval completaria bem a função. Mas, quando já nos dirigíamos para a estação do metrô, na volta para o hotel, deu pra ver pelo buchicho nas portas das inúmeras boates do bairro que a badalação estava apenas começando. 

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terça-feira, 8 de novembro de 2016

Cadê a eleição que tava aqui? O gato comeu!

The Cat, nascido e criado no leste americano, tem um gosto peculiar: é um devorador de emoções, especialmente aquelas que animam os pleitos eleitorais.

Nos últimos meses, The Cat passou a circular pelos telhados com fome insaciável. A ação felina eliminou quase todos os sentimentos que americanos de carne e osso pudessem nutrir pelos candidatos Hillary e Trump. O fenômeno foi especialmente sentido por turistas estrangeiros que, como eu e Mario, desembarcaram nos Estados Unidos às vésperas da eleição do novo presidente. Nada de rejeição ou admiração, desagrado ou empatia, amor ou ódio... A vida transcorrendo nas ruas como se houvesse amanhã: sem cartazes, gritos de guerra, nem manifestações empolgadas.
-Ué! Cadê a eleição que devia estar aqui???
-The Cat, my darling. The Fat Cat...

A ironia é que, apesar de só termos visitado estados com tendência democrata, a candidatura de Hillary era praticamente imperceptível na vida cotidiana. Recordo-me apenas de uma mulher exibindo um adesivo pró-candidata.

Já as críticas ao republicano foram um pouco menos sutis. Apareceram em conversas com taxistas, geralmente imigrantes, indignados com as afirmações xenófobas de Trump, e em máscaras e fantasias que ironizavam o personagem louro. Também passamos por uma aglomeração na porta da Trump Tower, um endereço nobre de NY, mas por falta de sinais claros, fiquei sem saber se a manifestação era contra ou a favor ao megaempresário. No finalzinho da viagem, em Chicago, outro animal cruzou o nosso caminho. Um elefante-instalação, colocado na calçada da Michigan Avenue, convidava os passantes a registrar, em seu lombo-painel, as opiniões sobre um possível governo Trump. Quanto aos escritos, dá pra dizer que não eram os mais lisonjeiros...

Mas bastava voltar ao hotel e ligar a televisão para verificarmos que The Cat não apreciava as emoções oferecidas no cardápio midiático. Todos os dias, as redes de notícias produziam uma enxurrada de informações sobre as eleições, apresentadas na telinha como as mais polarizadas e imprevisíveis dos últimos tempos. O menu incluía opiniões, entrevistas, pesquisas e prognósticos, coberturas especiais, documentários, compondo um ciclo ininterrupto de retroalimentação, mas descolado da vida presencial. Sinal dos tempos? Poder das mídias sociais? Mais fácil atribuir ao paladar seletivo do nosso felino...                         -The Cat, my darling. The Fat Cat...

Embora uma parcela expressiva dos americanos já tenha escolhido o seu candidato nas votações antecipadas, hoje, 8 de novembro, é a data oficial para que os eleitores se manifestem. Estou curiosa para saber o resultado das eleições mais assépticas que já presenciei. Como contribuição brasileira, só me resta torcer: Fora Trump! Fica Hillary!