sexta-feira, 7 de fevereiro de 2020

Joaquin

Não dou a mínima para histórias em quadrinhos, os super-heróis e seus arqui-inimigos. Não ligo pra Gothan City, envolta em trevas, lixo e ratos. Não quero saber se Thomas Wayne é um empresário decente ou se abusa das funcionárias. Não me interesso pelo assassinato dos pais de Bruce, e principalmente, não me comovo com os olhos tristes do pequeno Batman. Pouco me importa o filme de Todd Philips, seus prêmios passados, futuros; e as discussões sobre as origens da violência, seja numa sociedade distópica ou aqui mesmo no bairro ao lado.

Mas o que eu quero mesmo entender, o que ainda não consegui atinar, é como um corpo, o corpo de Joaquin, transforma-se assim, frente aos nossos olhos, em cavalo vigoroso da loucura. O esquálido corpo de Joaquin, costelas à mostra na cama, na banheira. Magreza que se veste de cores, esforço em technicolor pra disfarçar a vida monocromática.

No rosto de Joaquin, a face do palhaço, lábios modelados à força pelos dedos, sorriso no qual só as crianças acreditam. Na boca de Joaquin, a gargalhada, o descontrole, o desespero; e o cigarro.

Dançam os braços e pés de Joaquin, batalham por momentos de equilíbrio e elegância; movimentos belos e inúteis. O balé sucumbe ao medo, à raiva e ao desvario. A arma posta na mão de Joaquin. That’s life, conclui Sinatra ao final do filme. Ou será conclusão de Joaquin?

Não dou a mínima para Arthur Fleck, não ligo para o Coringa. O que eu quero mesmo entender, o que não consegui atinar, é como o corpo, o complexo corpo de Joaquin, se livra do personagem depois de tanta entrega e agonia.
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