quarta-feira, 27 de novembro de 2019

Canção Insana

Minha terra tem secura
Nenhum sabiá a cantar
Palmeiras foram embora
Mesmo assim quero voltar

Minha terra está triste
Só fumaça se vê lá
Bicho não come nem cresce
Mesmo assim quero voltar

Foi tanta queimada forte,
Tanta cinza, labareda,
Que fugi esbaforido
Procurando me salvar

Aqui dei com os costados, consegui me acalmar
Vejo estrelas, cheiro flores, tenho tido até amores
Mesmo assim (como explicar?)
Sonho com o que deixei lá.

Só pode ser mau-olhado,
Feitiço de Curupira, travessura de Saci
O fato é que eu vivo aqui
Pensando em estar por lá

Faço prece, ajoelho,
E começo a jejuar
Peço a Deus que eu não morra
Sem que eu volte para lá

Sem que eu invente as palmeiras,
E cultive sabiás
Das cinzas, farei estrelas
Sou louco por acreditar?

Foto Rodrigo Baleia / Greenpeace

--------------------------------------------------
A paródia surge a partir de uma nova interpretação, da recriação de uma obra existente e, em geral, consagrada. Escrever uma crônica-paródia de Canção do Exílio, de Gonçalves Dias, foi o mais recente desafio do meu curso. Penei com a métrica e as rimas, mas, como gostei do novo contexto que criei para a terra idealizada, decidi publicar. E hoje recebi a avaliação do Rubem Penz, que deu o empurrão final para a postagem no Blog.

Parodiar Canção do Exílio não é proposta nova, muitos escritores de grande importância literária já o fizeram. E muitos aprendizes também se lançaram na empreitada. Quem quiser checar algumas destas produções, é só seguir o link:   Blog do Jeff Rossi - 15 paródias