terça-feira, 19 de junho de 2018

Viagens e Histórias

Cada viagem é uma história original, mas é também só uma parte da história. Um viajante experimenta a tradução subjetiva do lugar visitado, vivencia uma coleção de impressões influenciada por aspectos pessoais: o que gosta e valoriza, o que conhece e consegue enxergar. Cada viagem é ainda o resultado das suas próprias condições: os lugares escolhidos, o sol e a chuva, as pessoas que cruzam o caminho, os acasos. Maio foi mês de viagem para mim, momento de conhecer e interpretar, à minha maneira, diferentes lugares da Inglaterra e da Escócia. 

Nos trinta dias passados fora de casa, além do Mário, tive um companheiro incondicional: o sol. Protagonista inesperado na primavera da ilha, seguia-nos pelos parques, castelos, lagos, cidades enfim. E até virou piada o fato de sempre escapulirmos das nuvens e da chuva, carregando o nosso sol portátil na mochila. Ou seria o astro um elemento cenográfico, puxado por cabos para o alto do palco a cada vez que entrávamos em cena? Só sei que adorei ver a alegria das pessoas, eufóricas com o tempo bom, correndo para os gramados para aquecer o corpo, ou reunidas nas portas dos pubs, e tagarelando sem parar: “What a lovely weather!”, “Oh! It´s really cool, it´s very sunny!”, “Enjoy these warm days!”.
Holland Park - Londres
We certainly enjoyed! Desfrutamos a cena urbana e o campo, os castelos e igrejas, a bela geografia da Grã-Bretanha. E também vivemos altas doses de adrenalina quando nos arriscamos na direção (Mário ao volante e eu de copiloto, claro!), desafiando o cérebro a seguir na mão esquerda mesmo que ele, volta e meia, insistisse em se rebelar. Os dois primeiros dias pelas estradas estreitas da região de Cotswolds foram tensos, foco total no mantra que repetia sem cessar: left, left, left... Depois de alguns sustos e poucos erros (felizmente inofensivos), a paz voltou a reinar no Toyota alugado por uma semana. 

Ao final deste arroubo de autossuficiência na Inglaterra, embarcamos numa experiência ao avesso e nos deixamos levar, sentados no banco de trás, numa viagem dentro da viagem. Conhecemos a Escócia por intermédio do olhar de um escocês saudoso de sua terra, pupilas emocionadas pelas recordações, e ávido por nos contar histórias de séculos de heroísmo, sangue e lutas. Nesta jornada compartilhada e, por isso, cheia de vivências inaugurais, cheguei ao ponto mais ao norte em que estive no planeta (Ilha de Skye, latitude 57 graus); estabeleci meu recorde de subida em trilha na montanha (Monte Schiehallion, 900 metros); comi (e adorei) carne de veado; e aprendi a apreciar um bom whisky single malt.
Ferry entre Corran e Ardgour - Escócia
Se eu conseguir manter alguma regularidade na atualização do Blog, espero contar um pouco mais sobre nossa bela visita às terras da Rainha. Pena que não possa relatar detalhes do casamento real, pois descobri, em cima da hora da cerimônia, que meu chapéu verde limão com plumas roxas era igualzinho ao de Elizabeth II. Num gesto de benevolência, abri mão do convite para não ofuscar a soberana! Mas vocês, com certeza, vão me desculpar por esta falha narrativa, não vão?

Para saber mais sobre a viagem, leia também: 2- Elegância Verde ; 3- ZDP