The Cat,
nascido e criado no leste americano, tem um gosto peculiar: é um devorador de
emoções, especialmente aquelas que animam os pleitos eleitorais.
Nos últimos meses,
The Cat passou a circular pelos telhados com fome insaciável. A ação felina eliminou
quase todos os sentimentos que americanos de carne e osso pudessem nutrir pelos
candidatos Hillary e Trump. O fenômeno foi especialmente sentido por turistas estrangeiros
que, como eu e Mario, desembarcaram nos Estados Unidos às vésperas da eleição
do novo presidente. Nada de rejeição ou admiração, desagrado ou empatia, amor
ou ódio... A vida transcorrendo nas ruas como se houvesse amanhã: sem cartazes,
gritos de guerra, nem manifestações empolgadas.
-Ué! Cadê a eleição que devia estar
aqui???
-The Cat, my darling. The Fat Cat...
A ironia é
que, apesar de só termos visitado estados com tendência democrata, a
candidatura de Hillary era praticamente imperceptível na vida cotidiana. Recordo-me
apenas de uma mulher exibindo um adesivo pró-candidata.
Já as
críticas ao republicano foram um pouco menos sutis. Apareceram em conversas com
taxistas, geralmente imigrantes, indignados com as afirmações xenófobas
de Trump, e em máscaras e fantasias que ironizavam o personagem louro. Também
passamos por uma aglomeração na porta da Trump Tower, um endereço nobre de NY, mas
por falta de sinais claros, fiquei sem saber se a manifestação era contra ou a
favor ao megaempresário. No finalzinho da viagem, em Chicago, outro animal
cruzou o nosso caminho. Um elefante-instalação, colocado na calçada da Michigan
Avenue, convidava os passantes a registrar, em seu lombo-painel, as opiniões sobre
um possível governo Trump. Quanto aos escritos, dá pra dizer que não eram os
mais lisonjeiros...
Mas bastava
voltar ao hotel e ligar a televisão para verificarmos que The Cat não apreciava as
emoções oferecidas no cardápio midiático. Todos os dias, as redes de notícias
produziam uma enxurrada de informações sobre as eleições, apresentadas na
telinha como as mais polarizadas e imprevisíveis dos últimos tempos. O menu incluía
opiniões, entrevistas, pesquisas e prognósticos, coberturas especiais,
documentários, compondo um ciclo ininterrupto de retroalimentação, mas descolado
da vida presencial. Sinal dos tempos? Poder das mídias sociais? Mais fácil
atribuir ao paladar seletivo do nosso felino... -The Cat, my darling. The Fat Cat...
Embora uma
parcela expressiva dos americanos já tenha escolhido o seu candidato nas
votações antecipadas, hoje, 8 de novembro, é a data oficial para que os
eleitores se manifestem. Estou curiosa para saber o resultado das eleições mais
assépticas que já presenciei. Como contribuição brasileira, só me resta torcer:
Fora Trump! Fica Hillary!
Um comentário:
A catarse é global. Parece que uma verdadeira multidão permanecia quieta em alguns armários. De repente saíram alvoroçadas, cheias de empáfia. Posturas e pensamentos cheirando a século XIX e XVIII maquiadas com ares de novidade foram bem lidas por marqueteiros. Trump, assim me parece, teve bons leitores desses rastros de gostos e opiniões deixados pela internet via redes sociais e sites de compras.E Trump não é o único. Tem outros doidos - inclusive no Brasil - lendo essas estatísticas como investidores do Wall Street.
E também faz parte! É um momento tormentoso da humanidade, me parece. Tem que atravessar cuidando pra não romper mastro, romper vergas, rasgar velas. Porque navegar é preciso.
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