terça-feira, 27 de fevereiro de 2024

Noélia

Noélia caminha pela areia sem atenção, tropeça nos pés descalços, a barra do vestido lambendo os morrotes fofos. No ambiente, nada a atrai – movimentos, cores, sons – nada! Olha para si mesma, corpo em concha, o mundo interior em preto e branco. Lá fora o mar tranquilo; por dentro, ondas de ressaca. Pudera! Não anunciaram que o tempo mudaria por estes dias? Forte calor, frente fria... 

Tinha acabado de constatar, um pouco antes de bater a porta da casa e sair atordoada, que o amor detesta mudanças, que ele só se sente bem com temperaturas constantes, em condições ideais de umidade, na mais completa calmaria. Raios e temporais?! Malditos sejam, esconjura o amor. Malditos sejam, repete a mulher, a voz vibrando dentro da própria concha. Um amor abalado cisma em morrer, morte súbita. Resta espanto, e agonia.

Noélia está só; a praia vazia, olhada de soslaio, confirma a sensação. Melhor assim... De que adiantaria um ser vivente ao seu lado se é impossível partilhar o incomunicável? Não basta soletrar “dê-ó-erre” com toda a minúcia ortográfica, ou dividir as sílabas de “so-frri-menn-to” reforçando as ênfases individuais. Palavras não bastam diante da morte do amor. Por isso, se cala - estática, estátua.

Se ela movesse um pouco o corpo, se erguesse a cabeça na direção do horizonte, veria um pássaro se aproximar: voo elegante no céu, asas e vento em parceria, a cauda-leme apontada para o único lugar habitado na areia. Se pelo menos abrisse os olhos, se permitisse que a luz inundasse as suas retinas, experimentaria um momento fugaz de comunhão. Mulher e pássaro unidos na sombra projetada a sua frente: o corpo dela, esteio; nas asas dele, anseios. Mas Noélia amarra-se em si, cobre o rosto com as mãos, não se entrega à luz. O pássaro, indiferente aos limites da mulher, segue livre o seu destino.
Conto Noélia nascido do trabalho com o grupo Escrita Matinal. Texto inaugural da promessa de 2024.
Imagens: @oszvaldnoell

sexta-feira, 16 de fevereiro de 2024

Promessa de Ano Novo

Quando 2024 deu as caras por aqui, decidi me fazer uma promessa: colocaria a escrita como uma de minhas prioridades no ano.

A minha produção escrita é geralmente espasmódica, manifesta-se sem nenhuma regularidade ou estabilidade de assunto. Eu juro que gostaria de mudar isso! Invejo os que escrevem com disciplina e entusiasmo, mesmo que não pareça haver no mundo um só motivo para tal.

Sozinha, sei que não dou conta de fazer a promessa se concretizar. Por isso, esta semana entrei para o grupo Escrita Matinal @escritamatinal, coordenado por Liana Ferraz. Entre 8 e 8:30 da manhã, nos encontramos para deixar fluir a criatividade e as palavras. Tem horário, tem parceria; vai funcionar.

E, em março, começo o curso Formação de Escritores @formacaodeescritores na plataforma da Metamorfose, com o objetivo de trabalhar as técnicas e recursos da escrita. Tem análise e produção textual, tem devolutiva dos professores. Com certeza, vai funcionar.

A ideia é publicar aqui no Blog algumas dessas produções. E, quem sabe, contar com a leitura de vocês. 😊