domingo, 17 de março de 2024

A Casa

 

A casa era antiga, e feia. Fachada estreita, portão de ferro com grades em cima. Há tempos não via tinta, cinzas e beges já desbotados.

A casa, assim precária, vivia só. Há tempos não via gente, cômodos desabitados em seu interior.

A casa estava triste. Cansada de asperezas, queria vida em carne e osso. Sabia de sua falta de graça. Numa rua de exuberâncias, quem haveria de lhe lançar os olhos?

A casa teve uma ideia, conhecedora que era da vizinhança – anos de observação privilegiada. E rabiscou-se a cara, com ironia, certa de que a mensagem seria sua aliada. “Não quero visitas”. E destrancou-se toda, a espera.

Não tardou e a casa sentiu o sol. Uma lufada de vento a invadiu quando o portão rangeu na timidez da manhã. E ela toda tremeu ao pressentir certeza nos pés pequenos que pisavam-lhe o chão.

A casa agora pulsa, água e sangue em sintonia. Até que o tempo passe, e a vida clame por outras mensagens.

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Texto produzido a partir de disparador do grupo Escrita Matinal (@escritamatinal)

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