segunda-feira, 9 de janeiro de 2023

Navega, coração!

O barco segue tranquilo pelo Lago Guaíba na calorenta tarde de Porto Alegre. No alto-falante, a voz da locutora identificando os principais pontos do passeio: as ilhas, os rios Jacuí e Caí, a vegetação bem preservada. “Essa é a Ilha das Flores, que ficou famosa com o filme”, acrescenta o marinheiro responsável por vigiar a proa do Cisne Branco. “Ah, o filme!”, recordo-me do curta de Jorge Furtado. O visual de agora em nada remete às cenas fortes do lixão e da miséria. 

Vou coletando as imagens pelo caminho: bonitas casas de veraneio, marinas, prainhas, pontes. Subo ao convés, agora mais vazio pelo rodízio dos passageiros em busca de alguma sombra. A locutora se cala e a playlist volta a tocar. Não conheço a música, mas a voz, a voz é do Kledir, tenho certeza. É ele sim, parece que é... Uma senhora, num grupo ao fundo, canta animada, sabe de cor a letra; me aproximo e peço a comprovação. Sim, é ele quem canta, embora a canção seja do Fogaça, o senhor ao lado me informa. Eles conhecem a obra de Kleiton e Kledir desde o início da carreira, no início dos anos 80; são fãs, como eu. 

Olho para as pessoas a minha frente, reconheço-me nelas. Envelheci. Envelhecemos, nós e nossos ídolos. Um misto de saudade e melancolia quase me pega desprevenida. Sou salva pelos versos que agora preenchem o ambiente: deu pra ti, baixo astral... Encho os pulmões pra completar: vou pra Porto Alegre, tchau, tchau... Seguimos pelo Guaíba, unidos pela força da cantoria, o sol já baixando no horizonte. A cidade-amuleto se aproxima. Só me lembro de dizer: bah, trilegal!
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Na Rede: Composições de Kleiton e Kledir

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