domingo, 21 de janeiro de 2018

Gente da Serra (1) - Tiago

Ele é ainda jovem, pela casa dos 30 anos. Filho da terra, cresceu e estudou em Domingos Martins. Já foi guia turístico nas trilhas do Parque Estadual da Pedra Azul, mas com a autorização de passeios independentes, sem necessidade de condutor, a clientela diminuiu e ele migrou para a área da segurança. Agora, faz plantão na entrada principal da reserva, principalmente fora dos horários de funcionamento regular. Foi lá que nos encontramos, no dia 31 de dezembro, depois de subirmos a pé uma estradinha de terra, com sol forte e ataque de mutucas, para descobrir que, por causa dos feriados de final de ano, o parque estava fechado. Mas Tiago salvou a pátria! Com conversa fácil, bom humor e gentileza, contou-nos inúmeros causos sobre a colonização e também sobre a grande formação rochosa de cor azulada que dá nome ao parque. 

A história que mais gostei não foi inventada por ele, já faz parte do folclore da região, mas Tiago a contou tão compenetrado que, no início, até pensei ser verdade.

- Já faz muito tempo, mas uma grande batalha se deu aqui. Um menino, com sua espingarda, caçou uma onça feroz. A luta foi tão sangrenta que suas marcas ficaram inscritas na pedra e ainda hoje estão visíveis – narrou com expressão séria e ênfases para sublinhar o suspense.

- Vem cá, olha daqui – ele nos guiou a um descampado à frente da entrada. Tá vendo os buracos mais à esquerda na rocha? São as pegadas do menino e do bichão. A onça se debateu e estrebuchou diante da morte, por isso as ranhuras e a mancha de sangue ali na base. E o lagarto, coitado, que vinha subindo a pedra na hora em que se deu a peleja, de tão assustado, petrificou-se pelo medo!
Acompanhamos cada lance da narrativa, e rimos muito, e puxamos mais assunto com o Tiago. Por fim, inebriados, pegamos a estradinha de volta, até com mais ânimo pra enfrentar o sol e as mutucas. 

Foi muito bom perceber que o desenvolvimento econômico da serra capixaba tem permitido que jovens, como o nosso anfitrião, não precisem abandonar suas pequenas cidades para buscar trabalho e sustento. Encontramos rapazes e moças atuando em restaurantes, bares e pousadas, ou empreendendo em atividades de ecoturismo – como o Ricardo, do Ecoparque Pedra Azul. Tomara que eles continuem por lá, recebendo os visitantes com competência e carinho, o que, num círculo virtuoso, acaba trazendo novos turistas e mais crescimento.
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2 comentários:

angela disse...

Adorei a história! A não-visita ao Parque fica assim marcada na memória com um grande passeio!

Unknown disse...

Aos poucos vamos conhecendo o turismo no Espírito Santo com os textos tão belos.
Vânia Oliveira