Caminhando na Lagoa,
especialmente em domingos ensolarados, costumo recordar a Convenção de Genebra.
Foi o Mario que me apresentou as novas deliberações da alta cúpula europeia.
Evoca-se a convenção para criar e legitimar formas de convivência, ou para
endossar as já existentes que carecem de reforço. Tudo de acordo com as
conveniências do momento. Define-se desde quem deve acionar o controle do
portão da garagem (se o motorista ou o carona), até o responsável por retornar
uma ligação telefônica que tenha sido subitamente interrompida.
Para mim, no entanto, a orientação
fundamental do documento é a que trata dos deslocamentos a pé em locais de
muito movimento. Diz o Artigo 1º., do Capítulo 1º. dos Princípios Fundamentais:
-
Pedestre, use sempre a faixa da direita. A recomendação virou “meme” familiar,
repetida tantas vezes e em contextos diversos. Por fim, o artigo se sobrepôs aos
outros e tornou-se sinônimo da própria Convenção.
Nas escadas rolantes das estações
de Metro, em Paris, nos avisamos: Convenção de Genebra! (Os parisienses apressados são profundos conhecedores da convenção e não
hesitam em atropelar os desavisados.)
Nas calçadas, em Amsterdam, alertamos:
Convenção de Genebra! (Lá, os ciclistas têm
plena convicção de que os passantes vão cumprir a cláusula pétrea. Turistas
distraídos com as atrações da cidade correm sério risco de vida!)
A capacidade de criar e
compartilhar expressões não é privilégio nosso, é parte da química que se dá
entre membros de diversas famílias. Independe de laços sanguíneos, de gênero ou
idade. É resultado de convivência, troca, afeto e empatia. Poderia valer até
como parâmetro para a definição de Família no polêmico Estatuto...
Sobre essa liga que a língua
criativa promove entre as pessoas, lembrei-me de um livro da Zélia Gattai que
ganhei há tempos. Em Códigos de Família, a
matriarca nos apresenta a gênese e os significados dos ditos que fazem parte do
repertório do clã Amado. Os causos bem humorados, as expressões em sotaques e idiomas
variados, compõem a versão da família baiana para a Convenção de Genebra.
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