segunda-feira, 19 de agosto de 2024

Calendário

Um mês, os meses, todos eles

passam aos pulos - pulos de perneta.

E caem, em cacos, confusos


Fevereiro ferve em frevo,

em mim é frio, fraqueza.


Março e maio me amolam:

martírio, mistério, quaresma,

amor materno, amarelo.


Abril adoro,

te amasso, me amanso.

Agosto dá gosto - amargo,

de adeus -, não gosto.


Junho e julho eu sempre junto:

canjica, quentão, pamonha.

Janeiro tento jejum,

é o jeito!


Setembro, se me lembro,

segue-se de novembro.

Noite a noite, em novena

rezo o terço, desolada.

E logo me chega dezembro.

Desanimo. Terminou?


Ainda me resta outubro,

outono, em ouro se espalhando.

Ouço um murmúrio nas folhas...

Que ousado!

É um ouriço enrolado,

confundindo o calendário.

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  • O desafio de escrita do módulo Poesia e Prosa Poética, coordenado por Rafael Figueiredo, foi construir um poema usando uma das figuras de linguagem: aliteração (repetição de sons consonantais) ou assonância (repetição de sons vocálicos). Acabei juntando os dois recursos num só poema. Foi desafiante, e divertido, garimpar as palavras, montar as composições sonoras. A ilustração, gerada pela IA do Canva e editada por mim, segue a mesma atmosfera bem-humorada com que busquei traduzir a proposta.