
Na exposição, fotos impressas em grande formato se espalham
pelo salão. São retratos em tamanho real de homens, mulheres e crianças fotografados
nas décadas de 40 e 50. Parecem pinturas pelos contrastes de luz e sombra,
pelos olhares expressivos. O estúdio do fotógrafo, como se vê nas imagens, é
bem simples em seus recursos: um invariável painel pintado serve de fundo, um
tapete persa gasto, uma cadeira de palhinha e uma esguia mesinha lateral se
revezam em possíveis composições com os personagens da vez.
Simples também são os retratados, que se apresentam sozinhos
ou em grupos. Mulheres trajando vestidos discretos, cintados, sempre cobrindo
os joelhos; grampos ou presilhas domando os cachos dos cabelos. Homens de terno e gravata, lenço no bolso, cabeleira
gomalinada. O chapéu aparece como elemento indicador de respeitabilidade, além
de compor elegantemente as fotografias. Os sapatos surrados chamaram-me a
atenção. Dorrit conta que Assis Horta guardava no estúdio roupas masculinas
para emprestar, já que os senhores chegavam para a sessão de fotos sem o apuro
necessário, daí deduzo que os sapatos fossem dos próprios, com
as marcas do tempo e do barro das ruas.
Nas paredes laterais, estão expostas inúmeras fotos tiradas
para as carteiras de trabalho. Um apanhado de pessoas sérias, corpos eretos e
plaquinhas com a data em que os takes foram feitos. Passear diante delas é tentar decifrar vivências e sentimentos escondidos.
Objetos de trabalho e uma recriação do estúdio de Diamantina
completam a exposição. Dá até pra brincar, ensaiando umas poses diante do
painel e usando o celular em vez da Rolleiflex. O difícil mesmo é conseguir algum bom
resultado com um click único, marca do estilo de Assis Horta, que
nunca repetia o registro de uma cena. Fiquei imaginando o que deve pensar o velho fotógrafo sobre o nosso contemporâneo apego pelo disparador...
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Assis Horta
Retratos – de 15 de março a 5 de maio de 2017
Espaço Cultural
BNDES – Rio de Janeiro
O guia impresso da exposição ajuda na compreensão dos detalhes, mas a leitura
do capítulo de O Instante Certo amplia
consideravelmente a experiência visual. Eu recomendo a dobradinha.
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Para ler a postagem sobre minha admiração pela jornalista Dorrit Harazim, clique aqui.
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